Tudo igual
Nada de mais
Parece fácil fazer como todo mundo faz
O tempo deixa de ser progresso
Vira um ciclo
Verão, outono, inverno, primavera
Depois
Verão e tudo mais
A consciência não deixa dormir de tanto perguntar
Para que tanta pressa
Para que tanta demora
Cadê sua fé, sua coragem
Por que não disse
Por que não fez
Não esqueci o rosto
Não esqueci a oportunidade perdida
Não esqueci o passado
O dia amanhece
Finjo que nada aconteceu
E resmungo
– Quem não sente culpa de nada?
Então
Apresento as armas
E vou para a rotina
O mês, o ano é um piscar de olhos
O dia, uma eternidade
Para espairecer
Programas de TV
Ou um bar em meio a goles de solidão, de frustração
Escondendo a identidade
Trancando a vontade
Leve desespero de todos os dias
Ideias e planos
Sonhos e desejos
Que tumultuam a mente
E nunca irão acontecer
E percebo que a vida está sendo desperdiçada
Logo
O primeiro sintoma de estresse, de depressão
O câncer
E a fulminante parada cardíaca
Renato de Oliveira Sodré
(extraído do livro Aparências)